03 fevereiro 2009

O Peso da Solidão - Parte II (Revista Noticias Magazine)

Quando se senta à mesa da cozinha, tudo é desespero. Há alguma fruta que a ama do filho vai buscar à praça, são as sobras do dia. Há cerelac para o pequeno-almoço do miúdo. Ela faz normalmente uma refeição por dia, a que lhe dão no restaurante. «Desmaio muitas vezes. Pensava que era de fome, mas não é só. Também tenho tremores, diarreia, vómitos. Não consigo parar de pensar no que a minha vida se tornou, não consigo dormir, preocupada com o meu filho. Ai se eu um dia adormeço, ai se chego atrasada para o ir buscar ou para o ir levar. E tenho tanto medo de ser despedida... Às vezes, quando chega o fim-de-semana, vou ao centro comercial encher os olhos na Zara. Gostava de comprar uma camisola ou de ter um telemóvel, mas não posso. Tudo o que tenho vai para fraldas, para o leite, para a papa. É tão dificil criar um filho sozinha. Houve um dia que pensei dar o meu filho para adopção, para ele ter ter uma vida melhor do que aquela que eu lhe consigo dar.» Baixa o rosto, envergonhada. «Claro que nunca conseguia fazer isso.» Sem esperança. Nem apoio de ninguém. Isabel precisa de antidepressivos para aguentar os dias, de calmantes para as noites, mas só os toma quando tem dinheiro ou alguém da Segurança Social lhe arranja a medicação sem custos.
...amnesiac76

1 comentário:

  1. Quantas vezes temos consciência que estas situações acontecem mesmo ao nosso lado e não fazemos absolutamente nada?!?!

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